terça-feira, 10 de novembro de 2009


Como é preciso lutar
contra a própria luta?
Lutar com tudo,
com todas as forças e energias,
todas as vontades,
todas as angústias
e medos.
Lutar com todo o ser
contra o próprio ser.


Como é preciso resistir
à própria resistência?
e fincar pé
com todas as certezas
que nos consomem de perguntas
e dúvidas.
Resistir ao medo de resistir
e ainda assim ficar resistindo à resistência.


Como é preciso aceitar
a própria aceitação?
Aceitar as questões,
as dúvidas mesmo quando não há respostas…
sobretudo quando não há respostas.
Aceitar a verdade
mesmo quando composta por mentiras.
Aceitar tudo de braços abertos,
mesmo quando é difícil aceitar
O inaceitável…


Como é preciso sonhar
com próprio sonho?
Sonhar com todos os sentidos,
sonhar com a vida,
sonhar vendo,
sonhar ouvindo, saboreando, tocando
é preciso cheirar o sonho
e despertar sonhando
do pesadelo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

UM CAMINHO DIREITINHO


Não me arranquem a pele,
não serei diferente por isso.
Escusam de me dar lições de moral
e testes de vida.
Não estou cá para ser testado,
só estou cá para estar cá.
Não tenho caminho,
nem direcção,
nem destino.
Só tenho cruzamentos e encruzilhadas,
um atrás do outro,
uma atrás da outra,
escolhas e mais escolhas
para piorar tudo,
escolhas e mais escolhas
para me confundir cada vez mais.
Para me baralhar,
para me fazer perder,
para me perder.
Parem de me confrontar!
Parem!
Não quero decidir nada,
sobre nada,
em nada,
e por razão nenhuma!
Não quero escolher,
não posso escolher,
não tenho escolha.
É mesmo assim,
Não há escolha onde não há opções.
Espelho-me nos cruzamentos,
reflicto-me na encruzilhada.
O meu reflexo é a confusão
de um abraço,
de uma dança
ou de um beijo fora de tempo,
na pessoa certa, mas na vida errada.
Um beijo que afinal não me leva a lado nenhum,
só à merda de outro cruzamento.
Porra!
Dêem-me uma estrada toda recta,
um caminho direitinho,
sem curvas, sem inclinações,
sem entradas ou saídas
e principalmente sem cruzamentos…
um caminho direitinho,
é só o que peço,
mesmo que não vá dar a lugar nenhum.

NA VOSSA PELE


NA VOSSA PELE

Se me tentarem vender a verdade,
Compro!
Seja qual for o preço.
Juro que compro!

Se me convidarem para saber o futuro,
pago!
Tudo o que tenho e não tenho.
Juro que pago!

Só não aguento é mais dúvidas e incertezas,
e caminhos desconhecidos.
Mais torturas e desencontros com o que já encontrei.
Nem mais encontros fora de tempo e de espaço.

Só não suporto é mais ideias feitas
e ideais colados a cuspo,
e morais e certezas.

Eu também tenho certezas quanto às vossas vidas!
Sei tudo o que podem e devem fazer.
Encontro todas as verdades.
Encontro todas as mentiras.
E mais!
Encontro todas as soluções,
para todos vocês!

Se fosse eu,
na vossa estrada,
na vossa pele,
tudo era simples…
eu sei que era.
Eu na vossa vida brilhava de tanta certeza que tinha!

Mas a minha…
a minha vida, ,
é muito diferente.
È complicada,
a pele e a estrada.

BULLSEYE


Estou farto de mim. Já não aguento as mil indecisões que todos os dias me fazem sentir que perco o rumo, ou que estou a mudar de rumo. Já nem me apetece analisar as questões éticas ou morais, porra para isso. Estou a falar de conseguir decidir, a cada momento o que realmente quero. Pior! Estou a falar de assumir o que realmente quero. Fico perdido à espera de certezas que, naturalmente, nunca vou ter antes de levar as coisas para a frente. E, se calhar por isso, nunca as levo. Quando me acontecem coisas que me fazem questionar a minha vida, é normal que a questione, que me provoque para encontrar respostas, mas o problema é que, quando encontro essas respostas, raramente tenho capacidade para decidir de acordo com essas respostas. Tendo a deixar que a vida escolha por mim. E claro, a vida não escolhe nada, a vida acontece e eu fico a vê-la passar e a vê-la descontrolar-se à minha frente. Podem ser pequenas coisas, uma visão repentina ou uma frase que alguém que acabámos de conhecer nos diz, só de conversar connosco por um bocadinho, paz! Uma cacetada em poucas palavras, essa pessoa acertou na muche. Bullseye! Leu-nos com uma clareza com que nunca nos conseguimos ler, ou que nunca tivemos coragem para nos conseguir ler. E após isso? Ando uns tempos a pensar nisso, na pessoa ou na frase ou nas duas coisas, e depois o mais certo é deixar tudo na mesma, por conforto, medo ou questões práticas que me fazem acreditar, mesmo que possa não ser verdade, que essa decisão ou não é a melhor, ou não é exequível. Merda para isto tudo, dizem-me para pensar no meu mundo e em mim, que sou a única pessoa com quem vou mesmo ser obrigado a viver para o resto da minha vida, e é verdade, sou mesmo, mas isso não melhora nada desta confusão, porque se seguir um caminho e me arrepender, também tenho que viver nele… ainda por cima comigo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Por vezes não é nada. Não há um inicio ou um começo. Não há um porquê As coisas simplesmente acontecem porque sim. Porque naquele momento faz sentido, porque não podia deixar de ser. Mas continua a ser nada, fica uma recordação e um vazio, daqueles que apetece reencher.


Por vezes nem pensamos e as consequências parecem distantes ou indiferentes, e as coisas acontecem, as coisas saem das nossas mãos, ou ficando lá, não deixam de acontecer, simplesmente porque assim tinha que ser. Fica a espera, fica o nervoso e a dúvida de quem vai primeiro sucumbir à tentação de dar o próximo passo, mesmo que nos tenham sempre ensinado e venha no manual, que se deve deixar o outro à espera um bocadinho, para ficar com o momento a remoer-lhe e seja ele (o outro) a dar esse passo. Mesmo que isso nos remoa também a nós. Quem é mais forte? Quem tem mais capacidade de resistência? Quem joga melhor? Quem é que aguenta? Quem é que aguenta? Mas afinal quem é que inventou essas regras estúpidas?
Por vezes nem sabemos se o outro quer dar esse passo, ou qual é o passo que o outro quer dar ou que nós dêmos, ou se o outro não quer passo nenhum. Mas quando alguma coisa já aconteceu, a sua importância não depende obrigatóriamente do que vem depois, pode depender apenas desse momento que já foi e por isso mesmo é verdadeiro. Seria ingénuo pensar que as coisas acontecem por acaso, mas também o seria acreditar que tudo o que acontece é para durar mais do que o que já durou. Pode ser apenas o início de qualquer coisa diferente do que foi ali, no momento, mas ainda assim o momento foi o que foi.


Por vezes, as coisas simplesmente combinam. O olhar e as palavras. Os momentos combinam como os silêncios. Os gostos, tão diferentes combinam, como combinam as risadas e os passos, numa dança que embora planeada, é sempre imprevisível, mesmo para mim que não sei dançar... e combina o beijo, os lábios encaixam como se já se conhecessem, e ao mesmo tempo descobrem-se e descobrem outra realidade atrás deles e do seu calor. E aquele primeiro beijo faz, naquele momento, todo o sentido, era para ser. Tinha que ser. Deve ser alguma inevitabilidade cósmica cuja regra desconhecemos e nem sequer temos grande vontade de descobrir. E, no fundo, é só um momento. Um segundo, um minuto, umas horas em que é possível fugir para um lugar, que naquele momento e por lhe pertencer, é melhor.


Por vezes vamos embora com uma esperança voltar lá. Não porque seja inevitável. Não porque seja necessário ou imperativo. Não porque não se possa viver, ou continuar feliz sem percorrer de novo esse caminho. Mas apenas porque o caminho é bom, porque os bons caminhos devem ser descobertos, porque não é honesto desperdiçar um bom caminho, mesmo que se avizinhe problemático ou desconfortável, porque sim.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MORDAçAS


Estou cançado.
“sick and tired” desta forma.
Podia ser outra forma se mudasse com ela os conteúdos…
Ou se mudasse tudo.
“não posso fazer porque não é justo”
Que justiça há em não fazer, também?
E pensar, também não é justo?
E desejar ardentemente também é enganar?
E amar?
Fico quieto e adormeço neste limbo indeciso.
Faço ou não aquilo que se me impera?
Rasgo ou mantenho-me firme na minha éticazinha e na minha moralzinha?
“Não faças aos outros…”
E não faço.
Se os pode magoar, aos outros…
Escondo, não conto não mostro
Aliás é isso “que eu quero que me façam a mim…”
Pudor judaico cristão de merda,
Regras, eu sei que são regras para podermos viver em sociedade…
E os desejos? As vontades? As paixões?
Também se vivem com regras?
Há regras no amor, na paixão?
Há regras no modo apaixonado de criar,
No modo excêntrico de explodir ou implodir
Ou rasgar
As cordas e mordaças que temos ?
Não há.
E o que mais oiço é:
“controla-te!”
“comporta-te”
“Esquece”


MORRE!!!!!!


Pois eu, não quero morrer.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

QUERO


Sei lá o que quero.
Quer dizer, sei o que quero agora.
Quero tudo como está.
Tudo igualzinho ao que tenho.
Quero exactamente estar onde estou,
com quem estou, mesmo neste momento em que estou.
Quero ser quem sou, o que sou e como sou.
E quero tudo o resto.
Quero o que não sou e o que não tenho.
Quero não ter que escolher,
e às vezes nem quero viver.
Pelo menos esta vida,
ou a outra ou outra qualquer,
ou todas.
Às vezes quero todas
Sem querer nenhuma.


É mais fácil o que não quero:
Nada.
O que eu não quero é nada.
Ou seja:
- Não há nada que eu não queira -
Não quero perder,
não quero deixar,
não quero esquecer,
não quero ignorar,
nem deixar de importar.
Não quero saber,
não quero sofrer,
não quero morrer,
e às vezes nem sequer quero viver.
Mas quero existir, sempre.


Sou o que quero e o que vivo.
Em cada momento,
em todos os momentos.
E quero tudo, sempre.
Tudo agora,
e depois.
Sugar tudo de tudo e de todo o lado.
Tanto quero a razão como a mais absoluta estupidez.
O amor e o ódio casados ou em união de facto,
Bem juntinhos e abraçados.
Quero tudo porque tudo é pouco,
uma vida só para viver tantas
Um tempo para tantos factos e tantas dores,
e tantos sabores e cheiros e caminhos.
Quero todos os caminhos e estradas,
de todos os mapas.
Saber onde me levam e porquê.
Quero os caminhos mais que os destinos
sejam quais forem ,
uns e outros.
Os destinos são finais e eu não quero finalizar nunca.
Quero caminhar em direcção oposta daquela em que estiver,
e oposta a essa também.
Caminhos paralelos, diagonais, cruzados e perpendiculares.
Todos os caminhos que aguentar,
sabendo que quando cair,
a queda também é um caminho para viver em toda a sua plenitude,
como tudo o resto.


Quero o cansaço quando estou parado.
E o descanso quando não tenho tempo para pensar.
E quero o tempo,
e o espaço e o vazio,
o vácuo e o nada.
Quero tudo o que tenho direito,
mesmo que não tenha direito a nada.
Quero o suor do amor e do trabalho,
e de mais mil,
trabalhos e amores.
E quero as lágrimas e os desânimos,
as euforias e os enganos.
Por favor enganem-me!
Quero ser enganado mil vezes,
quero pensar que sim quando é não, que não quando é sim,
e vice-versa.
E saber ao que sabe um coração
esteja partido ou inteiro,
morto ou vivo,
a sangrar ou não.
Por favor maltratem-me!
Quero sentir a dor de ser maltratado,
mal amado, pouco amado e amado de mais.
A dor de não ter espaço nem tempo para tanto amor,
E a dor de não ter amor nenhum.


Só quero tudo.
Nada demais para pedir.
Não quero sofrer nem escolher,
escolha é perda,
e eu não quero perder nem a feijões.
A escolha é a única coisa que não quero
a única que não posso esquecer.
A escolha é a única que me pode vencer.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A GRANADA

Quero ser uma bomba.
Sei lá, uma bomba relógio,
ou um cinto de explosivos
à cintura de um qualquer terrorista numa luta sagrada.
Uma bomba atómica.
Cogumelo de fogo.
Destruição que se prolonga no tempo,
por muito tempo.
Destruição institucional por uma grande bandeira,
uma grande potência.
Quero ser uma bomba de carnaval,
Bombinha chinesa que quase nunca sequer assusta,
que faz só um estalido…pum!
Que nem uma mão arranca nem um dedo,
apenas uma leve queimadura que dura o exacto instante de um “ai”.
Sou granada.
Contra a minha vontade sou granada.
Quando for atirado, cavilha armada (nem que seja em parva)
rebentamento calculado com grande grau de erro,
dependente do arremesso e da pontaria de um braço
e da força e destreza do lançador que grita:
“fire in the hole!” se for em ingles, claro,
Que “fogo no buraco” não dá estilo e não assusta.
E ao rebentar,
meia dúzia de estilhaços poderão marcar alguém,
destruir um pouco,
mas nem sequer são os muitos fragmentos de uma mina anti- pessoal,
furtiva e fatal para alvo indiferenciado.
NÃO! Nem mina sou.
Sou uma estúpida granada que espera explodir em boas mãos,
(aí matava de certo o dono das mãos).
Mas se explodir no ar,
cedo de mais,
longe do alvo, do objectivo
será estúpido o fim como a explosão,
como foi o planeamento desta missão a que chamo vida,
(planeamento inexistente)
tantas vezes em vão.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

TRÁZ O ÓLEO


Quando tudo pode estar bem,
quando não há, em nós, nada que impeça a fortuna,
quando nada nos pode estragar o dia,
e por mais que se procure já não se encontram dúvidas relevantes.
Ai! Um pequeno desencontro!

Quando se percebeu o que nos importa,
e apesar das dificuldades se aposta,
e apesar dos monstros, e ninfas, sereias e dragões
se vai em frente,
Ui! Uma dor de dentes!

Quando finalmente se escolhe,
e não deixando nada para trás se segue o caminho,
escolhendo um futuro e aceitando o passado,
o longínquo e o recente,
Ai! O tempo não chega!

Quando se sabe, quando se decide,
quando se quer e quando se escolhe,
há dores de dentes, desencontros, enxaquecas ,
mas nada de nada nos demove de lutar pela vida.
Ai, mas às vezes, o motor emperra…
TRÁZ O ÓLEO!!!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

DRAMÁTICO FURIOSO


Será que vai ser sempre assim?
Será que por trás do sonho se esconderá sempre a angústia?
Será controlável a abertura que se dá ao mundo,
e a que se recebe quando se dá tudo?
Sei lá por que desviado caminho me leva o destino
que parece obrigar a que cada descoberta traga consigo dúvidas e dores.
Cada vez que cresço um centímetro que seja
deixo de caber em todas as roupagens que antes me satisfaziam,
deixo que a felicidade me escorregue entre o que era e o que passei a ser
e o que pretendo ser depois,
E depois disso.
Será que vai ser sempre assim?
Em cada vitória sentir que perco.
Em cada dia de crescimento sentir-me menor e mais fraco.
Por cada inspiração mais sufocado.

Tenho mesmo que por tudo em causa a cada novidade,

e perder a calma, o conforto e o eu anterior por cada update?
Não pode ser diferente?
Não posso deixar de me apaixonar por tudo,
por cada acção, por cada olhar, por cada texto ou por cada ideia?
Sentir cada desejo como vital e cada vontade como urgente,
saborear cada emoção como única ou como última,
viver o mundo como se estivesse a acabar ou como se já fosse o fim.
Como se já fosse o fim de tudo?
Cada sensação é uma história de melodrama
Um enredo furioso, um dramático obstáculo para ultrapassar.
Será que alguma vez deixarei, outra vez, de ser assim
De ser EU?

domingo, 23 de agosto de 2009

AJUDA


Faltam 4 dias. Será que fará alguma diferença? No passado fez. Agora não sei. Será que desta vez, um estranho me conseguirá ajudar a ajudar-me? Não sei, o que sei é que sozinho não estou a conseguir. Não estou a conseguir viver a minha vida com aquele sentimento de pertença que devemos ter em relação à nossa vida. A sensação que tenho é que não pertenço a este espaço e a este tempo e a muitas destas pessoas. Pelo menos não lhes pertenço sempre. Pertenço aos bocados. Hoje mais que ontem mas menos que há 3 ou 4 dias. Parece que não sou feito à medida da minha vida ou vice-versa, parece que estou numa vida errada. Mas nem sempre. Há alturas em que me sinto no sitio certo na hora certa, mesmo estando no mesmo sítio e quase na mesma hora de onde sinto não pertencer. Será que a ajuda que agora procuro me ajudará a saber o que quero? Será que poderá ser o alfaiate emocional que me ajudará a caber de novo neste fato que é a minha vida? (como uma luva) Tudo são dúvidas e eu estou à beira do colapso (hoje, amanhã pode ser diferente). Não falo só de escolhas, falo principalmente de aprender a equilibrar-me com as escolhas que fiz ou que me empurraram para fazer. Falo de aprender a viver com a vida que se tem, mesmo que seguindo um rumo para a que se quer ter, mas sem revoluções precipitadas ou rupturas extemporâneas. Com mais segurança pode-se mudar, ou ficar como se está. Com o meu nível de dúvida apenas se pode ir deixando que a vida decida por nós, e isso é o pior que se pode fazer. Será que a psicoterapia me pode ajudar? Faltam 4 dias, já me ajudou antes, veremos…

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

UNIÃO


Tenho a impressão que vou conseguir. É só uma impressão. Mas como é baseada em coisas concretas que se vão passando, sinto que é um bom presságio e vou seguindo esta rota. Não há certezas, nenhumas. Não há nada no horizonte que faça com que esta impressão se transforme em convicção sequer. Mas como, em grande parte o cumprimento destes objectivos depende da minha capacidade de trabalhar e de lutar, vou carregando nesta tecla, uma e outra vez, e outra, e ainda outra vez, até que um dia surja a oportunidade. Esta oportunidade, como todas as oportunidades, mais tarde ou mais cedo acabará por aparecer, e por isso, vou mantendo os olhos bem abertos pois essa é a única maneira de a ver.
Já passou o tempo de duvidar de coisas como capacidade ou talento, acho que já provei a mim mesmo que tenho, pelo menos, a capacidade de trabalho e de sofrimento necessárias à conquista dessa entidade abstracta que é o talento. Tenho mesmo a sensação que o peso do talento não é assim tão grande, e que serve essencialmente, para distinguir os muito bons dos fora de série. Não acredito que possa ser um fora de série, mas acredito que poderei ser bom, muito bom até, quem sabe… O grande problema é que não basta isso, é necessário estar no sitio certo na hora certa; é necessário perceber que este é o comboio a tomar e não o outro; é necessário distinguir qual a estação em que se deve sair para mudar de comboio ou para seguir a pé; é necessário sentir se esta companhia ou outra nos completa e nos faz bem (principalmente na perspectiva pessoal, quem nos faz bem pessoal ajuda-nos em todos os campos da vida) , e saber também quando é altura de seguir o caminho sozinho. Tenho, até aqui conseguido, embora com alguns trambolhões, escolher tudo isto de uma forma mais ou menos coerente e que me tem feito avançar neste objectivo. É principalmente nos outros, na entreajuda e no apoio que damos e recebemos que está a fonte desta capacidade de trabalho e principalmente da força que nos leva a continuar cada vez que o caminho é incerto e assustador ( e isto acontece tantas vezes). Cada vez que duvidamos dessa força ou dessa capacidade, ou do talento, ou até da vontade de continuar, são os outros, aqueles que chamamos de amigos, independentemente se os conhecemos desde sempre ou há meia dúzia de meses, aqueles que connosco percorrem este percurso, que nos darão a sua força com toda a disponibilidade e toda a generosidade de quem sabe, porque o sabem, que também temos sempre para eles.

Neste momento acredito estar no lugar certo, na hora exacta e com a companhia que ultrapassa todas as expectativas. Estou convosco. É por mim, mas também por vocês que luto, todos os dias para que daqui a uns anos possamos jantar tardiamente, todos juntos ou em grupos mais pequenos, depois de cada noite de estreia, seja a minha ou a vossa, para festejar mais um sucesso como um grupo unido que cada vez mais devemos e temos que ser.

Obrigado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

DIA NÃO!


Acordei num daqueles dias em que só me apetecia não ter acordado. Não que tenha alguma razão concreta para acordar assim, mas a sensação depressiva com que hoje abri os olhos faz-me prever um dia difícil. Há dias em que só o facto de ter que falar, ter que ver, ter que andar, tomar banho ou vestir são símbolos da mais infeliz das acções que temos que desempenhar no dia a dia. Depois de já alguns anos de vida, em que este tipo de sensação já me aconteceu algumas vezes, continuo sem ideia de como lidar com isto. A vontade é de me fechar e não sair, não ver ninguém e não falar nem comigo. A vontade é voltar a dormir e só acordar amanhã, de preferência acordar para ver um sol radioso, não só no céu, mas também dentro de mim, e fazer um sorriso aberto quando acordar e puder ver à minha volta aqueles que mais amo…

sábado, 15 de agosto de 2009

DIA DE ESTREIA


Papel em branco
Actor do nada
Diálogos cortados
Riscados rasgados
Diálogos perdidos.

Papel em branco
Marcação indefinida
No proscénio da morte
No palco da vida
No texto apagado.

Uma luz que cega e mostra
No taco da contracena
No pano fechado
Um grito abafado
Na boca de cena.

O dia de estreia
Noite de tudo ou nada
O pano subiu
E na luz apagada
O publico…
Ah, o publico…
“Puta que pariu”.

CONTRADIÇÃO

Escrito após uma aula de corpo do Jean Paul Bucchieri.


Fui mais longe, mais forte, mais fundo.
Fui mais perto mais leve e superficial,
Fui ai, aqui sem ser ou sentir.
Fui Deus, fui escravo e mortal.

Fui mais eu e tão pouco sincero.
Fui mais falso e tão genuíno.
Fui eu sempre e nem sempre fui eu.
E mesmo distante sempre fui eu.

Fui porque tinha mesmo que ir.
Fui para onde não sei onde fui.
Fui para onde, afinal, não fiquei.
Fui mas não fui, só pensei.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Private joke




Este texto tem a ver essencialmente comigo, não é um reparo a ti ou a qualquer atitude tua. Não é para te mostrar como podes provocar sem querer ou até sem dares conta que o estás a fazer. Não. Este texto é sobre mim, ou se quiseres sobre nós, mas é para demonstrar como, neste momento “pedires um rebuçado não significa apenas isso” na minha cabeça. E isto passa-se não por teres, ou por eu ver nisso qualquer outra intenção. Significa mais, pelo sinal que emite, pelo que representa. Mostra-me que afinal sempre temos uma história juntos, uma história que, pelo menos para mim, foi importante. Estou convencido que para ti também.
De que estou a falar? Estou a falar dos moinhos (ou ventoinhas como lhes chamas) que sempre que os vês partilhas comigo. Não que seja grande coisa, mas é grande por ser algo que nos junta cada vez que os vemos sozinhos (e eu vejo-os todos os dias). Não que essa partilha signifique, em si, nada de especial, o que é especial é o tal sinal que emite. Grita-me aos ouvidos: “os moinhos fazem-na lembrar-se de mim!” E isto passa-se com dezenas de outras coisas, com um, ou com outro, ou até coisas como os moinhos que fazem isso aos dois. Coisas que nos lembram que passámos pela vida um do outro. É esse sinal que ainda dói por ser apenas relacionado com memórias passadas e não com uma vida presente, e dói mesmo que não se queira essa vida no presente, é que, por mais decisões que tomemos, as nossas entranhas pedem-nos coisas que não lhes podemos dar. E ao mesmo tempo que dói, não quero perder esses sinais, de forma nenhuma. Também se passa isto contigo?
Gostava de um dia poder receber esse sinal “apenas” com um sorriso nos lábios de uma boa recordação, ou com uma gargalhada aberta, acompanhado por ti. E os dois, capazes de rir porque, nessa altura saberemos que afinal, a nossa história foi uma coisa boa que nos aconteceu. Que essa história é, no mais intimo, um bom segredo só nosso que nos fará rir, sem que ninguém à volta, perceba porquê… Private joke.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

AMANHÃ







Não quero saber de amanhã.
Não me interessa amanhã.
Amanhã não existe.
Amanhã pode até nem chegar.
Hoje está cá,
aqui, comigo..
Amanhã é futuro, previsivelmente,
Não é real.
Amanhã só chega se viver hoje.

Quero lá saber de amanhã!
Amanhã penso nisso.
Hoje é agora,
é hoje,
sinto-o e vivo-o, hoje.
Sei lá se viverei amanhã…

Se hoje posso preparar amanhã?
Posso, sempre.
Posso ligar-te hoje,
para te ver amanhã.
E quando o amanhã for hoje,
e se o amanhã for hoje,
viverei o agora
sem pensar em amanhã.

ESTIVESTE LÁ ONTEM?


Estiveste lá ontem? Não te vi. Não senti a tua presença por aquelas bandas. Quer dizer, para ser sincero, vi-te, falei contigo até, mas não eras tu. Eras outra qualquer. Ontem estiveste tão longe quanto perto quando me cumprimentaste e quando, a espaços, falaste comigo. Estavas tão distante como era enorme a minha vontade de te encontrar, e de facto, não te encontrei. Havia uma barreira qualquer que não deixou que eu te sentisse. Não era um muro, como na peça, com uma fenda por onde os amantes se falavam e se viam, não. Por esta barreira nenhum amante sentiria a presença do outro sequer. Era um muro maciço que impossibilitou qualquer contacto entre nós, quer dizer, entre mim e aquela outra pessoa que lá estava. E no entanto, estavas lá, mesmo à mão de semear, só que eu não fui capaz de chegar a ti. Não gostei muito daquela rapariga que foste naquela noite, não eras tu.
Depois, quando fomos embora, cada um pelo seu caminho, mandaste uma mensagem, esta era tua, eu sei: “trouxeste a camisa que eu gosto.” Eu respondi, mas respondi à outra, aquela que lá esteve nessa noite: “Tal como tu, eu não surpreendo.” Ainda embutido na desilusão de, como era de esperar, não teres ficado comigo, tu não a outra, mais um bocado.

domingo, 9 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

A VOLTA


Há dois dias fui andar de bicicleta. Achei, e acho que preciso compensar a falta de ritmo das férias. Foi uma óptima ideia.

Agarrei numa bicicleta emprestada e lá fui eu, Ericeira fora, desde Ribeira d´Ilhas até à Foz do Lizandro. 14km ida e volta. Cheguei a casa a escorrer em suor e com o coração que parecia poder rebentar. Foi uma óptima ideia.

A bicicleta era toda profissional, mudanças atrás e à frente, suspensão regulável e principalmente um selim tão bom, tão aerodinâmico e tão pequeno, que me fez andar dois dias, quase sem me poder sentar por causa das dores no rabo. Foi uma óptima ideia.

Só desmontei da bicicleta, neste percurso, nas 2 subidas mais íngremes, já a meio, e quando o meu coração me disse: “paras agora, ou paro eu.” Foi uma óptima ideia.

Ontem tive na mesma que ir trabalhar, tive na mesma que tomar conta e brincar com as miúdas, tive na mesma que fazer o jantar. Foi uma óptima ideia.

Fiz o percurso sempre a abrir, em pouca mais de 20 minutos contando com montar e desmontar da bicicleta. Foi uma óptima ideia.

Esqueci-me de levar água, ia morrendo de sede. Foi uma óptima ideia.

Seja como for, hoje vou outra vez. Vou levar água, vou andar mais lento e fazer menos quilómetros, porque se controlar bem a coisa, e com um pouco de treino, daqui a duas semanitas já posso fazer o disparate de há dois dias ou pior. Afinal, foi uma óptima ideia.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009


Estou perdido na indeterminada escolha que tenho que fazer. Não tenho os dados do futuro para saber qual o melhor caminho a seguir. Qualquer das direcções assusta e acabo por ficar parado na encruzilhada. As bifurcações que se me apresentam são incertas e tento manter-me na “main road” que fui seguindo nos últimos anos. Mas até essa “ main road” me assusta agora, até este caminho que já devia conhecer é incerto daqui para a frente e já não sei se o que sempre me fez feliz pode continuar a fazer. Pior, já não sei se sou capaz de continuar a fazer felizes os meus companheiros de jornada.
Os caminhos são sempre um problema, só sabemos onde vão dar e por onde passam conforme os vamos percorrendo, e é impossível percorrer mais do que um caminho de cada vez. Ao escolher um, os outros ficam para trás e perdem-se nas memórias e adivinhações do que poderia ter sido. Se o caminho escolhido, depois de parte do percurso, não nos servir? O outro já passou e na vida não se anda para trás. E se descobrirmos que, afinal, o caminho deixado para trás, era afinal, o que deveríamos ter seguido? Se tivermos sorte, muita sorte, pode ser que ele nos apareça numa bifurcação mais à frente, mas as hipóteses são mínimas.
Sim, neste caso, outros caminhos se nos apresentarão, e com eles, novas escolhas difíceis e angustiantes, novos dramas e encruzilhadas aparecerão para que comece tudo de novo.
Por mim, já tomei uma decisão inapelável. Decidi de forma concreta, decidida, consciente, verdadeira, sem dúvidas, reflectida e principalmente inabalável que não sei o que fazer…


Boa sorte caminhantes!

MUDO




Ontem disseste-me que estavas cansada da minha atitude, da minha irritação, da minha ausência mesmo quando estou. Eu fiquei calado, fiquei mudo.

Ontem falaste-me de família, falaste-me de amor, falaste-me de compromisso. Eu fiquei calado, fiquei mudo.

Ontem perguntaste-me o que queria, perguntaste-me porque é que eu não estava feliz, perguntaste-me porque é que agora, com a vida mais calma, não éramos a família que fomos. Eu fiquei calado, fiquei mudo.

Ontem questionaste o meu esforço, questionaste a minha luta por nós, o meu comprometimento. Questionaste as minhas intenções e desejos. Eu fiquei calado, fiquei mudo.

Ontem fizeste amor comigo. Ontem fiz amor contigo. Não disse nada. Fiquei calado, fiquei mudo.

Amo-te.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CAPITAL


Ficava pelo menos agradado ao ver os executivos a correr de um lado para o outro entre os escritórios e os bancos. Excitavam-no os termos como off-shore, lucros, capital, downsising, Euribor e spread que esses senhores engravatados a prumo usavam.
Desceu a Rua, alegre, em direcção à bolsa de valores, e via toda a gente agarrada a instrumentos inventados por outros homens: telemóveis, PDAs, bips, etc no frenético ritmo que os negócios exigem.
Era realmente reconfortante vê-los almoçar em meia hora toneladas de calorias concentradas saídas das grandes cadeias de fast-food colocadas, felizmente, de forma estratégica no seu percurso.
Finalmente entrou no edifício da Bolsa. Era maravilhoso: mais instrumentos ao serviço destes homens, inventados por outros homens que, tal como estes, estavam de forma convicta ao serviço do dinheiro; Computadores portáteis e ecrãs de televisão piscavam luminosos ao rimo do sobe e desce das acções. Homens gritavam desesperados ou felizes, era um espectáculo lindo!
Subiu entusiasmado as escadas até ao balcão do primeiro andar de onde podia ver tudo de cima, Tirou do bolso mais um daqueles maravilhosos instrumentos inventados por outros homens, encostou-o ao ouvido direito, e realmente eufórico com tudo aquilo, premiu o gatilho.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar


Só por ter dois sois
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
Chamei casa a esse lugar


E anda sempre alguém por lá
Junto á tempestade
Onde os pés não tem chão
E as mãos perdem a razão

Só por enfrentar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
Deixo o tempo decidir

E anda sempre alguém por lá
Junto á tempestade
Onde os pés não tem chão
E as mãos perdem a razão

Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
E sei que nenhuma vai ganhar.


Jorge Palma

MÚSICA


Deixaste-me só. Percebi hoje que fiquei despojado até da música. “WITH OR WITHOUT YOU” já não consigo ouvir U2. “SEI QUE NÃO DÁ PARA MUDAR O COMEÇO” mas a ANA CAROLINA não me ajuda a “MUDAR O FINAL”. Está-me vedado o VITORINO, proibiu-mo a “TINTA VERDE DOS TEUS OLHOS”. O “LOLIPOP” do MIKA lembra-me doce e doce lembra-me o teu beijo e recorda-me que não pode ser verdade que “LOVE ONLY GETS YOU DOWN.”. Continuo a tentar o PALMA que me diz que “ESTA MIÚDA É UMA FEITICEIRA ”, e que “FIZ A CAMA NA ENCRUZILHADA E CHAMEI CASA A ESSE LUGAR”. O GODINHO, o meu GODINHO, “COM UM BRILHOZINHO NOS OLHOS”, diz-me todos os dias: “HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA TUA VIDA”, embora nunca seja. Onde posso ir buscar conforto se até o FREDDY MERCURY me grita aos ouvidos “FIND ME SOMEBODY TO LOVE”?
Já não pensava poder ser tocado desta forma, que a música, que sempre me deu vida, me pudesse matar a cada acorde. Que os acordes me pudessem ferir em cada verso e que cada instrumento me revelasse refrões cortantes. Não quero que o turbilhão de alegria e alguma (muita) impaciência e inconstância que foste e és desapareça da minha vida, não aceito o “I WHANT TO BREAK FREE” a que os QUEEN me aconselham. Continuo a sonhar poder um dia chamar-te gritando “IN THE NAME OF LOVE”…

DESISTIR


I
Nem sempre fui assim, sabes? Houve um tempo em que me senti seguro. Houve um tempo em que as dúvidas rapidamente se transformavam em certezas e decisões cirúrgicas.
Nem sempre fui assim, sabes? Mas já tinha sido assim antes. Antes de ti tudo era dúvida e incerteza. Tudo era um drama de indecisão. Depois, apareceste, foste luz e mapa. Foste direcção, e avisos e rede. Foste tudo. Foste mulher, foste mãe (sim, para mim também foste mãe), foste amiga e companheira e foste essencialmente parte de mim.
Nem sempre fui assim, sabes? Houve um tempo em que foste tudo o que importava. Um tempo em que um mais uma não era igual a dois, mas igual a nós.
Nem sempre fui assim, sabes? Agora já nem me lembro bem, mas já fomos sonho na realidade. Agora não sei o que somos. Passamos do sonho ao pesadelo em curtos minutos, e depois ao sonho de novo. Roda viva de emoções inconstantes. Minhas. Tu continuas a lutar pelo nosso sonho. Eu, sinto-me a desistir…


II
Nem sempre fui assim, sabes? Houve um tempo em que passaria por ti indiferente. Houve um tempo em que teríamos sido “só” amigos. Houve um tempo em que a nossa “química” terias tido outro fim.
Nem sempre fui assim, sabes? Mas já tinha sido assim antes. Há muito tempo ter-me-ia apaixonado por ti. Teria tido as mesmas reacções e intenções, as mesmas que agora. Teria tido as mesmas urgências, a mesma paixão e o mesmo deslumbre. Teria tido exactamente os mesmo instintos, aqueles que te encantam e afastam, e até os infantis e estúpidos.
Nem sempre fui assim, sabes? Já fui rígido de princípios e éticas, e já fui emocionalmente protegido. Houve um tempo em que teria sido cego para ti. Era outro tempo, não agora. Agora vejo-te mesmo quando não estás, e sinto o teu cheiro doce quando desapareces. Houve um tempo, aquele em que eu já tinha sido assim, em que lutaria por ti mesmo que fugisses como foges. Mesmo que fosses como vais, eu estaria sempre no lugar onde chegasses. Nesse tempo podia lutar e seguir sem restrições. Agora, quando foges, embora de forma quase sempre falhada, sinto-me a desistir…

terça-feira, 4 de agosto de 2009

CAIXA DE PASTILHAS


A tua caixa de pastilhas ainda está no meu carro, do teu lado. Está vazia, não sobrou nenhuma. Mas mesmo assim não consigo deitar fora esta prova de que estiveste ali. Não tenho outra, não tenho qualquer outra evidência da tua presença, só memórias. Mas as memórias não provam nada e atraiçoam-nos. Constroem-se misturando-se acontecimentos com desejos. A caixa de pastilhas é real. E embora não existam muitas coisas tão pouco românticas como uma caixa de pastilhas vazia, esta é a única coisa que sobrou , no meu carro, para provar que ali estiveste comigo…

domingo, 2 de agosto de 2009

ESTA É A HORA





Esta é uma hora diferente e estranha. É a hora em que já tudo acalmou. A hora em que finalmente me permito a ser livre. Depois da confusão de gritos e afazeres. De crianças e adultos que me chamam. De amores e de carinhos e de trabalhos.
Depois de tudo isto, tudo pára. Esta é a hora em que tudo pára, é a hora em que tenho tempo para pensar. É a hora de sentir. De sofrer. Esta é a hora da lágrima num canto escuro. Num canto sozinho da sala a olhar para a janela. Mas não vejo a rua, quando olho para fora. É um olhar perdido que só se vê memórias… Esta é a tua hora. São estes os minutos que finalmente te dedico do meu dia, depois da tropelia e da agitação que pouco me deixam pensar em ti… e mesmo quando penso, logo um “Pai!!!” interrompe qualquer lembrança.
A esta hora todos dormem. A esta hora sonham que durmo também. A esta hora sei que posso ficar contigo. Só um bocadinho. Fico contigo até se tornar difícil estar sozinho. Tento reviver um beijo. Um abraço. Mas revivo principalmente o sorriso. Aquele sorriso que vi desaparecer no momento exacto em que te beijei pela última vez. Foi esse o momento em que percebi. Nesse beijo percebi que o sorriso se ia. Fui atrás do beijo mas não o encontrei…. Nem o sorriso.