quarta-feira, 5 de agosto de 2009

DESISTIR


I
Nem sempre fui assim, sabes? Houve um tempo em que me senti seguro. Houve um tempo em que as dúvidas rapidamente se transformavam em certezas e decisões cirúrgicas.
Nem sempre fui assim, sabes? Mas já tinha sido assim antes. Antes de ti tudo era dúvida e incerteza. Tudo era um drama de indecisão. Depois, apareceste, foste luz e mapa. Foste direcção, e avisos e rede. Foste tudo. Foste mulher, foste mãe (sim, para mim também foste mãe), foste amiga e companheira e foste essencialmente parte de mim.
Nem sempre fui assim, sabes? Houve um tempo em que foste tudo o que importava. Um tempo em que um mais uma não era igual a dois, mas igual a nós.
Nem sempre fui assim, sabes? Agora já nem me lembro bem, mas já fomos sonho na realidade. Agora não sei o que somos. Passamos do sonho ao pesadelo em curtos minutos, e depois ao sonho de novo. Roda viva de emoções inconstantes. Minhas. Tu continuas a lutar pelo nosso sonho. Eu, sinto-me a desistir…


II
Nem sempre fui assim, sabes? Houve um tempo em que passaria por ti indiferente. Houve um tempo em que teríamos sido “só” amigos. Houve um tempo em que a nossa “química” terias tido outro fim.
Nem sempre fui assim, sabes? Mas já tinha sido assim antes. Há muito tempo ter-me-ia apaixonado por ti. Teria tido as mesmas reacções e intenções, as mesmas que agora. Teria tido as mesmas urgências, a mesma paixão e o mesmo deslumbre. Teria tido exactamente os mesmo instintos, aqueles que te encantam e afastam, e até os infantis e estúpidos.
Nem sempre fui assim, sabes? Já fui rígido de princípios e éticas, e já fui emocionalmente protegido. Houve um tempo em que teria sido cego para ti. Era outro tempo, não agora. Agora vejo-te mesmo quando não estás, e sinto o teu cheiro doce quando desapareces. Houve um tempo, aquele em que eu já tinha sido assim, em que lutaria por ti mesmo que fugisses como foges. Mesmo que fosses como vais, eu estaria sempre no lugar onde chegasses. Nesse tempo podia lutar e seguir sem restrições. Agora, quando foges, embora de forma quase sempre falhada, sinto-me a desistir…

1 comentário:

  1. pedes-me que te magoe mais.
    pedes sempre mais.
    para quê dar-te um doce e tirar-to?
    para quê piorar?
    se só o tempo pode curar certas coisas e já vamos no dia 6, para quê voltar ao início?
    por cada vez que se volta ao início acrescentam-se mais dificuldades ao percurso.
    percurso esse que não tem esperança de melhorar.
    e eu acho que continuas a acreditar que pode ser melhor,
    mas não pode,
    não vai ser.

    Por ti e por mais ninguém, devias desistir. Por ti e por mais ninguém.

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