Sei lá o que quero.
Quer dizer, sei o que quero agora.
Quero tudo como está.
Tudo igualzinho ao que tenho.
Quero exactamente estar onde estou,
com quem estou, mesmo neste momento em que estou.
Quero ser quem sou, o que sou e como sou.
E quero tudo o resto.
Quero o que não sou e o que não tenho.
Quero não ter que escolher,
e às vezes nem quero viver.
Pelo menos esta vida,
ou a outra ou outra qualquer,
ou todas.
Às vezes quero todas
Sem querer nenhuma.
É mais fácil o que não quero:
Nada.
O que eu não quero é nada.
Ou seja:
- Não há nada que eu não queira -
Não quero perder,
não quero deixar,
não quero esquecer,
não quero ignorar,
nem deixar de importar.
Não quero saber,
não quero sofrer,
não quero morrer,
e às vezes nem sequer quero viver.
Mas quero existir, sempre.
Sou o que quero e o que vivo.
Em cada momento,
em todos os momentos.
E quero tudo, sempre.
Tudo agora,
e depois.
Sugar tudo de tudo e de todo o lado.
Tanto quero a razão como a mais absoluta estupidez.
O amor e o ódio casados ou em união de facto,
Bem juntinhos e abraçados.
Quero tudo porque tudo é pouco,
uma vida só para viver tantas
Um tempo para tantos factos e tantas dores,
e tantos sabores e cheiros e caminhos.
Quero todos os caminhos e estradas,
de todos os mapas.
Saber onde me levam e porquê.
Quero os caminhos mais que os destinos
sejam quais forem ,
uns e outros.
Os destinos são finais e eu não quero finalizar nunca.
Quero caminhar em direcção oposta daquela em que estiver,
e oposta a essa também.
Caminhos paralelos, diagonais, cruzados e perpendiculares.
Todos os caminhos que aguentar,
sabendo que quando cair,
a queda também é um caminho para viver em toda a sua plenitude,
como tudo o resto.
Quero o cansaço quando estou parado.
E o descanso quando não tenho tempo para pensar.
E quero o tempo,
e o espaço e o vazio,
o vácuo e o nada.
Quero tudo o que tenho direito,
mesmo que não tenha direito a nada.
Quero o suor do amor e do trabalho,
e de mais mil,
trabalhos e amores.
E quero as lágrimas e os desânimos,
as euforias e os enganos.
Por favor enganem-me!
Quero ser enganado mil vezes,
quero pensar que sim quando é não, que não quando é sim,
e vice-versa.
E saber ao que sabe um coração
esteja partido ou inteiro,
morto ou vivo,
a sangrar ou não.
Por favor maltratem-me!
Quero sentir a dor de ser maltratado,
mal amado, pouco amado e amado de mais.
A dor de não ter espaço nem tempo para tanto amor,
E a dor de não ter amor nenhum.
Só quero tudo.
Nada demais para pedir.
Não quero sofrer nem escolher,
escolha é perda,
e eu não quero perder nem a feijões.
A escolha é a única coisa que não quero
a única que não posso esquecer.
A escolha é a única que me pode vencer.