terça-feira, 10 de novembro de 2009


Como é preciso lutar
contra a própria luta?
Lutar com tudo,
com todas as forças e energias,
todas as vontades,
todas as angústias
e medos.
Lutar com todo o ser
contra o próprio ser.


Como é preciso resistir
à própria resistência?
e fincar pé
com todas as certezas
que nos consomem de perguntas
e dúvidas.
Resistir ao medo de resistir
e ainda assim ficar resistindo à resistência.


Como é preciso aceitar
a própria aceitação?
Aceitar as questões,
as dúvidas mesmo quando não há respostas…
sobretudo quando não há respostas.
Aceitar a verdade
mesmo quando composta por mentiras.
Aceitar tudo de braços abertos,
mesmo quando é difícil aceitar
O inaceitável…


Como é preciso sonhar
com próprio sonho?
Sonhar com todos os sentidos,
sonhar com a vida,
sonhar vendo,
sonhar ouvindo, saboreando, tocando
é preciso cheirar o sonho
e despertar sonhando
do pesadelo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

UM CAMINHO DIREITINHO


Não me arranquem a pele,
não serei diferente por isso.
Escusam de me dar lições de moral
e testes de vida.
Não estou cá para ser testado,
só estou cá para estar cá.
Não tenho caminho,
nem direcção,
nem destino.
Só tenho cruzamentos e encruzilhadas,
um atrás do outro,
uma atrás da outra,
escolhas e mais escolhas
para piorar tudo,
escolhas e mais escolhas
para me confundir cada vez mais.
Para me baralhar,
para me fazer perder,
para me perder.
Parem de me confrontar!
Parem!
Não quero decidir nada,
sobre nada,
em nada,
e por razão nenhuma!
Não quero escolher,
não posso escolher,
não tenho escolha.
É mesmo assim,
Não há escolha onde não há opções.
Espelho-me nos cruzamentos,
reflicto-me na encruzilhada.
O meu reflexo é a confusão
de um abraço,
de uma dança
ou de um beijo fora de tempo,
na pessoa certa, mas na vida errada.
Um beijo que afinal não me leva a lado nenhum,
só à merda de outro cruzamento.
Porra!
Dêem-me uma estrada toda recta,
um caminho direitinho,
sem curvas, sem inclinações,
sem entradas ou saídas
e principalmente sem cruzamentos…
um caminho direitinho,
é só o que peço,
mesmo que não vá dar a lugar nenhum.

NA VOSSA PELE


NA VOSSA PELE

Se me tentarem vender a verdade,
Compro!
Seja qual for o preço.
Juro que compro!

Se me convidarem para saber o futuro,
pago!
Tudo o que tenho e não tenho.
Juro que pago!

Só não aguento é mais dúvidas e incertezas,
e caminhos desconhecidos.
Mais torturas e desencontros com o que já encontrei.
Nem mais encontros fora de tempo e de espaço.

Só não suporto é mais ideias feitas
e ideais colados a cuspo,
e morais e certezas.

Eu também tenho certezas quanto às vossas vidas!
Sei tudo o que podem e devem fazer.
Encontro todas as verdades.
Encontro todas as mentiras.
E mais!
Encontro todas as soluções,
para todos vocês!

Se fosse eu,
na vossa estrada,
na vossa pele,
tudo era simples…
eu sei que era.
Eu na vossa vida brilhava de tanta certeza que tinha!

Mas a minha…
a minha vida, ,
é muito diferente.
È complicada,
a pele e a estrada.

BULLSEYE


Estou farto de mim. Já não aguento as mil indecisões que todos os dias me fazem sentir que perco o rumo, ou que estou a mudar de rumo. Já nem me apetece analisar as questões éticas ou morais, porra para isso. Estou a falar de conseguir decidir, a cada momento o que realmente quero. Pior! Estou a falar de assumir o que realmente quero. Fico perdido à espera de certezas que, naturalmente, nunca vou ter antes de levar as coisas para a frente. E, se calhar por isso, nunca as levo. Quando me acontecem coisas que me fazem questionar a minha vida, é normal que a questione, que me provoque para encontrar respostas, mas o problema é que, quando encontro essas respostas, raramente tenho capacidade para decidir de acordo com essas respostas. Tendo a deixar que a vida escolha por mim. E claro, a vida não escolhe nada, a vida acontece e eu fico a vê-la passar e a vê-la descontrolar-se à minha frente. Podem ser pequenas coisas, uma visão repentina ou uma frase que alguém que acabámos de conhecer nos diz, só de conversar connosco por um bocadinho, paz! Uma cacetada em poucas palavras, essa pessoa acertou na muche. Bullseye! Leu-nos com uma clareza com que nunca nos conseguimos ler, ou que nunca tivemos coragem para nos conseguir ler. E após isso? Ando uns tempos a pensar nisso, na pessoa ou na frase ou nas duas coisas, e depois o mais certo é deixar tudo na mesma, por conforto, medo ou questões práticas que me fazem acreditar, mesmo que possa não ser verdade, que essa decisão ou não é a melhor, ou não é exequível. Merda para isto tudo, dizem-me para pensar no meu mundo e em mim, que sou a única pessoa com quem vou mesmo ser obrigado a viver para o resto da minha vida, e é verdade, sou mesmo, mas isso não melhora nada desta confusão, porque se seguir um caminho e me arrepender, também tenho que viver nele… ainda por cima comigo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Por vezes não é nada. Não há um inicio ou um começo. Não há um porquê As coisas simplesmente acontecem porque sim. Porque naquele momento faz sentido, porque não podia deixar de ser. Mas continua a ser nada, fica uma recordação e um vazio, daqueles que apetece reencher.


Por vezes nem pensamos e as consequências parecem distantes ou indiferentes, e as coisas acontecem, as coisas saem das nossas mãos, ou ficando lá, não deixam de acontecer, simplesmente porque assim tinha que ser. Fica a espera, fica o nervoso e a dúvida de quem vai primeiro sucumbir à tentação de dar o próximo passo, mesmo que nos tenham sempre ensinado e venha no manual, que se deve deixar o outro à espera um bocadinho, para ficar com o momento a remoer-lhe e seja ele (o outro) a dar esse passo. Mesmo que isso nos remoa também a nós. Quem é mais forte? Quem tem mais capacidade de resistência? Quem joga melhor? Quem é que aguenta? Quem é que aguenta? Mas afinal quem é que inventou essas regras estúpidas?
Por vezes nem sabemos se o outro quer dar esse passo, ou qual é o passo que o outro quer dar ou que nós dêmos, ou se o outro não quer passo nenhum. Mas quando alguma coisa já aconteceu, a sua importância não depende obrigatóriamente do que vem depois, pode depender apenas desse momento que já foi e por isso mesmo é verdadeiro. Seria ingénuo pensar que as coisas acontecem por acaso, mas também o seria acreditar que tudo o que acontece é para durar mais do que o que já durou. Pode ser apenas o início de qualquer coisa diferente do que foi ali, no momento, mas ainda assim o momento foi o que foi.


Por vezes, as coisas simplesmente combinam. O olhar e as palavras. Os momentos combinam como os silêncios. Os gostos, tão diferentes combinam, como combinam as risadas e os passos, numa dança que embora planeada, é sempre imprevisível, mesmo para mim que não sei dançar... e combina o beijo, os lábios encaixam como se já se conhecessem, e ao mesmo tempo descobrem-se e descobrem outra realidade atrás deles e do seu calor. E aquele primeiro beijo faz, naquele momento, todo o sentido, era para ser. Tinha que ser. Deve ser alguma inevitabilidade cósmica cuja regra desconhecemos e nem sequer temos grande vontade de descobrir. E, no fundo, é só um momento. Um segundo, um minuto, umas horas em que é possível fugir para um lugar, que naquele momento e por lhe pertencer, é melhor.


Por vezes vamos embora com uma esperança voltar lá. Não porque seja inevitável. Não porque seja necessário ou imperativo. Não porque não se possa viver, ou continuar feliz sem percorrer de novo esse caminho. Mas apenas porque o caminho é bom, porque os bons caminhos devem ser descobertos, porque não é honesto desperdiçar um bom caminho, mesmo que se avizinhe problemático ou desconfortável, porque sim.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MORDAçAS


Estou cançado.
“sick and tired” desta forma.
Podia ser outra forma se mudasse com ela os conteúdos…
Ou se mudasse tudo.
“não posso fazer porque não é justo”
Que justiça há em não fazer, também?
E pensar, também não é justo?
E desejar ardentemente também é enganar?
E amar?
Fico quieto e adormeço neste limbo indeciso.
Faço ou não aquilo que se me impera?
Rasgo ou mantenho-me firme na minha éticazinha e na minha moralzinha?
“Não faças aos outros…”
E não faço.
Se os pode magoar, aos outros…
Escondo, não conto não mostro
Aliás é isso “que eu quero que me façam a mim…”
Pudor judaico cristão de merda,
Regras, eu sei que são regras para podermos viver em sociedade…
E os desejos? As vontades? As paixões?
Também se vivem com regras?
Há regras no amor, na paixão?
Há regras no modo apaixonado de criar,
No modo excêntrico de explodir ou implodir
Ou rasgar
As cordas e mordaças que temos ?
Não há.
E o que mais oiço é:
“controla-te!”
“comporta-te”
“Esquece”


MORRE!!!!!!


Pois eu, não quero morrer.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

QUERO


Sei lá o que quero.
Quer dizer, sei o que quero agora.
Quero tudo como está.
Tudo igualzinho ao que tenho.
Quero exactamente estar onde estou,
com quem estou, mesmo neste momento em que estou.
Quero ser quem sou, o que sou e como sou.
E quero tudo o resto.
Quero o que não sou e o que não tenho.
Quero não ter que escolher,
e às vezes nem quero viver.
Pelo menos esta vida,
ou a outra ou outra qualquer,
ou todas.
Às vezes quero todas
Sem querer nenhuma.


É mais fácil o que não quero:
Nada.
O que eu não quero é nada.
Ou seja:
- Não há nada que eu não queira -
Não quero perder,
não quero deixar,
não quero esquecer,
não quero ignorar,
nem deixar de importar.
Não quero saber,
não quero sofrer,
não quero morrer,
e às vezes nem sequer quero viver.
Mas quero existir, sempre.


Sou o que quero e o que vivo.
Em cada momento,
em todos os momentos.
E quero tudo, sempre.
Tudo agora,
e depois.
Sugar tudo de tudo e de todo o lado.
Tanto quero a razão como a mais absoluta estupidez.
O amor e o ódio casados ou em união de facto,
Bem juntinhos e abraçados.
Quero tudo porque tudo é pouco,
uma vida só para viver tantas
Um tempo para tantos factos e tantas dores,
e tantos sabores e cheiros e caminhos.
Quero todos os caminhos e estradas,
de todos os mapas.
Saber onde me levam e porquê.
Quero os caminhos mais que os destinos
sejam quais forem ,
uns e outros.
Os destinos são finais e eu não quero finalizar nunca.
Quero caminhar em direcção oposta daquela em que estiver,
e oposta a essa também.
Caminhos paralelos, diagonais, cruzados e perpendiculares.
Todos os caminhos que aguentar,
sabendo que quando cair,
a queda também é um caminho para viver em toda a sua plenitude,
como tudo o resto.


Quero o cansaço quando estou parado.
E o descanso quando não tenho tempo para pensar.
E quero o tempo,
e o espaço e o vazio,
o vácuo e o nada.
Quero tudo o que tenho direito,
mesmo que não tenha direito a nada.
Quero o suor do amor e do trabalho,
e de mais mil,
trabalhos e amores.
E quero as lágrimas e os desânimos,
as euforias e os enganos.
Por favor enganem-me!
Quero ser enganado mil vezes,
quero pensar que sim quando é não, que não quando é sim,
e vice-versa.
E saber ao que sabe um coração
esteja partido ou inteiro,
morto ou vivo,
a sangrar ou não.
Por favor maltratem-me!
Quero sentir a dor de ser maltratado,
mal amado, pouco amado e amado de mais.
A dor de não ter espaço nem tempo para tanto amor,
E a dor de não ter amor nenhum.


Só quero tudo.
Nada demais para pedir.
Não quero sofrer nem escolher,
escolha é perda,
e eu não quero perder nem a feijões.
A escolha é a única coisa que não quero
a única que não posso esquecer.
A escolha é a única que me pode vencer.