
Por vezes não é nada. Não há um inicio ou um começo. Não há um porquê As coisas simplesmente acontecem porque sim. Porque naquele momento faz sentido, porque não podia deixar de ser. Mas continua a ser nada, fica uma recordação e um vazio, daqueles que apetece reencher.
Por vezes nem pensamos e as consequências parecem distantes ou indiferentes, e as coisas acontecem, as coisas saem das nossas mãos, ou ficando lá, não deixam de acontecer, simplesmente porque assim tinha que ser. Fica a espera, fica o nervoso e a dúvida de quem vai primeiro sucumbir à tentação de dar o próximo passo, mesmo que nos tenham sempre ensinado e venha no manual, que se deve deixar o outro à espera um bocadinho, para ficar com o momento a remoer-lhe e seja ele (o outro) a dar esse passo. Mesmo que isso nos remoa também a nós. Quem é mais forte? Quem tem mais capacidade de resistência? Quem joga melhor? Quem é que aguenta? Quem é que aguenta? Mas afinal quem é que inventou essas regras estúpidas?
Por vezes nem sabemos se o outro quer dar esse passo, ou qual é o passo que o outro quer dar ou que nós dêmos, ou se o outro não quer passo nenhum. Mas quando alguma coisa já aconteceu, a sua importância não depende obrigatóriamente do que vem depois, pode depender apenas desse momento que já foi e por isso mesmo é verdadeiro. Seria ingénuo pensar que as coisas acontecem por acaso, mas também o seria acreditar que tudo o que acontece é para durar mais do que o que já durou. Pode ser apenas o início de qualquer coisa diferente do que foi ali, no momento, mas ainda assim o momento foi o que foi.
Por vezes, as coisas simplesmente combinam. O olhar e as palavras. Os momentos combinam como os silêncios. Os gostos, tão diferentes combinam, como combinam as risadas e os passos, numa dança que embora planeada, é sempre imprevisível, mesmo para mim que não sei dançar... e combina o beijo, os lábios encaixam como se já se conhecessem, e ao mesmo tempo descobrem-se e descobrem outra realidade atrás deles e do seu calor. E aquele primeiro beijo faz, naquele momento, todo o sentido, era para ser. Tinha que ser. Deve ser alguma inevitabilidade cósmica cuja regra desconhecemos e nem sequer temos grande vontade de descobrir. E, no fundo, é só um momento. Um segundo, um minuto, umas horas em que é possível fugir para um lugar, que naquele momento e por lhe pertencer, é melhor.
Por vezes vamos embora com uma esperança voltar lá. Não porque seja inevitável. Não porque seja necessário ou imperativo. Não porque não se possa viver, ou continuar feliz sem percorrer de novo esse caminho. Mas apenas porque o caminho é bom, porque os bons caminhos devem ser descobertos, porque não é honesto desperdiçar um bom caminho, mesmo que se avizinhe problemático ou desconfortável, porque sim.
Há sempre um começo. Há sempre uma altura em que dizes "ou eu cedo a isto, ou resisto a isto." e escolher ceder, não é dizer só quando se diz que sim. ceder pode ser dizer que não mas continuar lá. resistir é que é só dizer que não. dizer que não com o corpo todo. e quem sabe se isso também não será uma nova experiência. quem sabe se isso, conseguir resistir não é também, já por si, um prazer. Quem sabe se esse não é o tal caminho bom que deve ser descoberto...
ResponderEliminar"porque o caminho é bom, porque os bons caminhos devem ser descobertos, porque sim."